Vi este vídeo da Mariza em que fala do filho que nasceu prematuro (sim, chorei bem antes dela começar a cantar) e lembrei-me do que se passou connosco durante a gravidez.
Tive uma gravidez bastante tranquila. Perto das 26 semanas a minha OB falou em pôr-me de baixa até ao final da gravidez, por causa da minha coluna (que não é a coisa mais direita do mundo), de ter uma bebé pequenina, etc.. Perto das 30 semanas informei-me sobre como identificar perda de líquido amniótico. Se seria muita quantidade, pouca… Disseram-me que perceberia, que seria como fazer xixi e que a quantidade poderia variar.
Poucos dias depois, ao apanhar algo do chão senti qualquer coisa a sair.
Se não tivesse feito aquelas perguntas antes, teria provavelmente ignorado, pensado que era dos óvulos que andava a colocar. A quantidade era pequena, uma colher de sopa talvez (desculpem a associação, mas foi o modo que encontrei para descrever). Falei com a OB que me recomendou ir ao hospital: se se confirmasse ruptura de membranas, teria de ficar internada e, eventualmente, ter o parto provocado.
Na triagem, de pernas ao alto, a enfermeira lá pôs o “cotonete”. Magoou-me tanto que acho que saltei na cadeira. Ela só disse “não é preciso fazer o teste, eu vi sair”. Chorei muito. Ela era pequenina, minorquinha, não era suposto ser assim. No meio disto, o meu marido, do lado de lá da cortina, ouvia-me chorar. A médica dizia “não chore, é pior para o bebé”. Pior eu me sentia e mais chorava.
Eu precisava de chorar!
As enfermeiras, bastante insensíveis e a leste do que se passava, entravam e saiam da sala do lado de lá da cortina com conversas como “Já sabes que tudo correu bem?! Sim! Nasceu com 4kg e tal! Que bom!” E eu, que só queria que a minha bebé nascesse saudável e no fim de termo…
Quando subi para o quarto, num novo momento de lágrimas em que a família me dizia para ter calma, disse-me uma enfermeira “chore, chore à vontade! Eu também sou mãe e sei o que é ter as hormonas todas aí incontroláveis.”
Finalmente recebi as indicações do médico: não pode levantar-se. “Se não houver mais perda de líquido ou outra complicação, vamos aguentar até às 32 semanas para provocar o parto. Vai tomar antibióticos e medicação para maturar os pulmões da bebé.”
E é no silêncio da noite que tudo isto pesa. E tudo passa a pesar tanto. Não tinha nada do quarto dela preparado, tínhamos começado a montar no dia anterior. O marido não tinha pressa, tinha dito tantas vezes que tínhamos tempo apesar da minha insistência. E, afinal, não teríamos tanto quanto isso.
Apressei-o. Os meus sogros vieram do Ribatejo. Andaram a comprar roupas 00, fraldas 00, a montar o berço, o trocador. E eu, sem poder participar em nada. Sim, interessava é que ela estivesse bem. Mas eu também queria estar a preparar tudo e isso pesa. E as horas passavam e eu queria controlar-me e não conseguia. E pensava que Janeiro não era o mês para ela nascer. Não era.
No final do segundo dia fez-se o click. Pensei “se nascer às 32 semanas pelo menos não nasceu ontem, ou hoje”.
E cada dia passou a ser uma vitória, mais tranquilo.
O apoio e as visitas da família foram fundamentais. Pedi o meu computador e pen com acesso à net. Decidi aprender crochet através de vídeos no youtube. Entretanto outro médico – é a vantagem e desvantagem de estar num hospital público, ouvimos opiniões diferentes – disse-me que eu podia levantar-me para ir à casa de banho, tomar banho, esticar as pernas. Que, pela experiência dele, isso era tão importante para o bem-estar das mães que era mais importante para o bebé do que evitar que não se mexesse.
Mas não tive mais perda de líquido. Supõem-se que houve a ruptura de uma das membranas (são duas) que deixou sair um pouco de líquido criando uma bolha. Sarou e, entretanto, a membrana de fora furou e o líquido acumulado saiu. Não houve, teoricamente, exposição da bebé ao “exterior”.
Vim para casa com a recomendação de estar em repouso o máximo de tempo possível. Chorei imenso quando cheguei a casa nesse dia com a minha mãe.
Entretanto ela desceu, colocou-se e perto das 35 semanas, se houvesse dilatação, ela estava pronta para sair! Muitas contrações não dolorosas, uma nova volta que a deixou sentada. Chegou Março, que começa com o meu dia de anos. Acordei dia 1 e disse “Já podes nascer”. E ela deve ter visto o calendário, porque começou a apertar-me o rim de um modo bastante, vá, insuportável! Nasceu no dia seguinte, às 37 semanas, por cesariana.
Pequenina (usou os fatos e as fraldas mini mini), linda e perfeitinha.
“Olha só o que nós fizemos!” disse eu ao marido.
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